Este ano, o pavilhão croata na 13ª Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza apresenta os diferentes esforços que ocorrem atualmente em diversas cidades da Croácia. A exposição “Unmediated Democracy demands Unmediated Space” (ou “democracia não mediada demanda espaço sem mediação”) interpreta o tema Território Comum (Common Ground) ao perguntar diretamente aos protagonistas destes conflitos coletivos como eles imaginam um futuro comum para além do mercado ou do estado, da mediação pública ou privada. Estes “desejos, restrições e potenciais expressos nestes locais de conflito” são uma parte de uma grande onda de protestos internacionais que demandam uma democracia real e direta, sem intermédios. As demandas, reunidas através de uma série de entrevistas investigativas, formam a base para uma possível estratégia de planejamento, enquanto as táticas de resistência se tornam padrões que podem moldar um território comum.
O pavilhão croata foca em como estas demandas podem nos fazer imaginar a configuração de possíveis espaços sem mediações. A exposição se organiza em torno de três seções: contexto, mapas e dispositivos.
O centro do pavilhão é formado por imagens pulsantes projetadas através de uma série de telas paralelas que retratam a atmosfera de diferentes momentos de revolta. Uma instalação de vídeo, criada por Igor Bezinović e Hrvoslava Brkušić, exibe eventos atuais de lutas dramáticas que acontecem em diferentes cidades da Croácia, algumas documentadas pelos próprios protagonistas. O contexto é ainda descrito pela performance de Siniša Labrović nos mesmos lugares em que ocorreram os conflitos e por vídeos de Pulska grupa.
Envolvida por este ambiente conflituoso, a exposição apresenta modelos de dispositivos potenciais e um mapa de demandas, táticas e práticas coletivas, junto com as fotografias de Boris Cvjetanović encontradas em meio às projeções. Os visitantes são convidados a entrar nesta representação contextual e navegar em torno das telas e dos vazios, caminhando através do ritmo dos protestos.
As interconexões entre diferentes conflitos e lutas trabalhistas pela administração democrática do espaço público são apresentadas no mapa como uma montagem de cidades onde estes conflitos estão acontecendo, negando a real distância geográfica e consolidando uma espécie de campo de ação. Os anos de colaboração criaram uma rede onde vários atores de diferentes lutas estão cooperando, apoiando uns ao outros, compartilhando táticas e experiências. Estas conexões superam as distâncias entre eles, englobando pontos focais de conflito em um espaço coeso aparente – o espaço de ação política. A resistência destes atores conectam os territórios distantes, criando o imaginário de cidade que chamamos de “máquina de luta”.
Os conflitos apresentados no mapa demonstram que se imaginássemos uma forma diferente de distribuição de mais valia, reapropriando os recursos necessários para a reprodução social e administrando-os democraticamente, poderíamos criar uma pré-condição em que a economia produzida em uma cidade pudesse ser reinvestida em seu próprio desenvolvimento.
As várias demandas reconhecidas através de entrevistas são traduzidas em linguagem arquitetônica através de modelos que relacionam o espaço público ao território da cidade de Pula. Baseados na pesquisa realizada, estes dispositivos espaciais almejam criar um território comum através dos quais nós possamos imaginar coletivamente um possível “espaço não-mediado”.